Turismo Rural se desenvolve por meio da capacitação de pessoas

Turismo Rural se desenvolve por meio da capacitação de pessoas

Parceria entre Emater/RS, Sindicato Rural de Erechim, Senar/RS e poderes públicos locais auxilia produtores e municípios a diagnosticarem potenciais e desenvolverem rotas como mais uma fonte de renda no campo

 

A satisfação em receber pessoas é traduzida no sorriso e no brilho no olhar de quem redescobriu mais um talento na propriedade rural: criar momentos que aliam gastronomia à paisagem do campo, no interior de Cruzaltense/RS – município que fica a 48 km de Erechim. Este é o caso da produtora Ana Minrogi, que ao lado do esposo Ivo coordena uma agroindústria de panificados, na linha São Roque, e que criou o Restaurante Rural Dona Ana, inaugurado em junho deste ano.


Dona Ana e o esposo Ivo fazem parte do Programa de Turismo Rural do Senar/RS, que é realizado no Estado há cerca de 20 anos e que já contribuiu com dezenas de famílias a encontrarem sua vocação na arte de receber. Em Cruzaltense, a partir de uma demanda levantada em 2024 pelas equipes dos escritórios municipais da Emater/RS local e de Entre Rios do Sul, um grupo de famílias está prestes a concluir uma dessas edições do programa, cuja entrega oficial da rota Reencontre Suas Raízes está prevista para o mês de outubro de 2025. O trabalho é resultado de uma parceria entre Emater/RS dos dois municípios, poderes públicos locais, Sindicato Rural de Erechim e Senar/RS.


– Identificamos quais famílias poderiam despertar o interesse, ver essa oportunidade, e buscamos o Senar /RS como fonte de capacitação para este trabalho conjunto com os produtores que aceitaram nosso convite – contextualiza a extensionista Angélica Gazzoni, da Emater/RS local.
Foi quase um ano de trabalho, contando com nove encontros do programa, além de outras capacitações na área gastronômica, de paisagismo, recepção e aspectos que envolvem o turismo rural. “Só gratidão. Estamos muito felizes em ter criado nosso restaurante rural. O retorno das pessoas está sendo muito bom”, resume dona Ana.


O espaço decorado com elementos rústicos e que remetem ao campo fica anexo à residência da família, comporta cerca de 30 pessoas e foi aberto antes mesmo de o programa ser concluído. O cardápio pode ser definido antes pelo grupo e é feito sob demanda. A proposta inicial e que caiu no gosto do público é o rodízio de pizzas. Com sabores clássicos e outros incrementados, a exemplo da pizza de nozes (que conta com generosos pedaços dos frutos caramelizados e geram uma explosão de sabor) e de copa com figo, o prato agrega experiências. Ao participar do rodízio, o cliente é recepcionado com mesa posta, flores, além de sobremesas que complementam o cardápio. 


“Hoje nós atendemos grupos fechados. Por vezes divulgamos e nas últimas ocasiões chamamos as pessoas que estão na nossa lista de espera. Assim fica mais fácil para organizarmos a nossa rotina e os atendimentos”, explica Ana, lembrando que a agroindústria de panificados segue funcionando, com o preparo de produtos para venda para merenda escolar, feiras e clientes diretos.


Turista quer viver experiências


Esse trabalho de receber pessoas praticamente em casa e servir uma boa gastronomia, com aspectos ligados ao rural, é um fenômeno que tem crescido muito nos últimos anos, em especial depois da pandemia do coronavírus, segundo análise da turismóloga Cristiane Tolotti, que atua por meio do Senar/RS e atendeu este grupo de Cruzaltense e Entre Rios do Sul. Ela também conta com ampla experiência em outros projetos neste segmento.

 

– O meio rural é rico em espaços que podem proporcionar isso ao turista. A opção por transitar nesses ambientes com trilhas, gastronomia, contemplação, bem-estar, eventos, entre outras ações, permite que famílias do campo possam ver neste segmento mais uma fonte de renda. Visitantes que optam por ter essas experiências estão dispostos a pagar por isso. É aí que entra a capacitação das pessoas, para que se possa profissionalizar os serviços – explica a turismóloga Cristiane.


Ela já viu de perto diversos casos de famílias que descobriram uma nova vocação no campo, adaptando outras atividades agropecuárias para agregar o turismo rural. No caso da família Mingori, no passado o foco era apenas na agricultura, depois foi criada a agroindústria e hoje essa experiência com o restaurante rural tem dado um novo ânimo para o casal, que tem o apoio dos filhos, genro e nora, bem como um casal de vizinhos, Valdecir e Deonira Tabaldi, que auxiliam nas atividades para receber o público. 


– Isso tudo é feito respeitando a realidade de cada família, de cada propriedade ou negócio rural. Com o diagnóstico é possível fazer isso considerando o tempo e a disponibilidade das famílias em investirem energia e recursos no turismo rural – pontua a profissional.

 

Bem-estar atrelado às paisagens rurais


A alguns quilômetros do Restaurante Rural Dona Ana, na Linha Santa Cruz, a Trilha Recanto dos Bambus também faz parte da rota Reencontre Suas Raízes, em uma área da família Galeti que fica às margens do Rio Erechim. Anteriormente, o espaço era utilizado para programas de fim de semana da família, que incluíam a pesca e momentos de pausa, em especial com o patriarca Vicente Aníbal Galeti (em memória desde 2015). A partir da realização do programa, uma trilha guiada permite que a professora de yoga Suzana Galeti (filha de Vicente) receba no espaço pessoas que gostam da natureza, de bem-estar, meditação e yoga. Juntando algumas técnicas, ela orienta o grupo incluindo o chamado banho de floresta. 


Com o apoio do esposo Jonas e do irmão Roberto (produtor e guardião do espaço do pai Vicente), Suzana convida os visitantes a se conectar consigo mesmo por meio da natureza, como prática de descompressão diante de rotinas cada vez mais intensas.


– Depois de visitar e olhar com mais calma este espaço, percebemos que aqui poderíamos agregar esse desejo de ficar mais perto da natureza, com uma experiência diferente para as pessoas. Como professora de yoga, posso dizer que além de ser um local de lazer, ao adentrar na trilha passa a ser terapêutico – explica.


Segundo ela, os numerosos bambus foram plantados pelos pais Vicente e Mairi Inéz há cerca de 25 anos. O local servia para reforçar ainda mais os laços familiares. Agora, também é uma forma de beneficiar outras pessoas com o cenário que a natureza desenhou, incluindo nascente de água e espécies nativas que seguem preservadas, bem como honrar a memória do pai Vicente. 

 

Um movimento que pode contribuir com o turismo rural regional


A partir do trabalho do Programa de Turismo Rural em diversas cidades, outros municípios que fazem parte da extensão de base do Sindicato Rural de Erechim têm demonstrado interesse em contar com esse braço de capacitação para a formação de grupos que convergem interesses no segmento. Além do grupo que participou das atividades em Cruzaltense e Entre Rios do Sul, outros como Viadutos, Ponte Preta, Carlos Gomes e Marcelino Ramos devem iniciar o trabalho em 2025/2026. 

 

– Temos visto resultados muito interessantes, porque além de capacitar pessoas, o programa explora potenciais que por vezes podem estar adormecidos. Outra missão muito importante é viabilizar que as famílias do campo possam ter no turismo mais uma fonte de renda. Temos vivenciado isso na prática – assinala a supervisora de Formação Profissional Rural do Senar/RS que atua na região, Francine Falcão de Macedo Nava. 


O presidente do Sindicato Rural de Erechim, Allan André Tormen, pontua que por meio dessa atuação é possível tornar mais palpável para a comunidade a importância do trabalho realizado por meio das parcerias, contribuindo com o desenvolvimento regional. Na visão dele, também é uma oportunidade para que o público de outras regiões e do meio urbano conheçam mais a realidade do setor agropecuário, não apenas pelas atividades tradicionais, mas com a habilidade natural de receber e acolher pessoas.


Além disso, outra contribuição é com o próprio município, no que se refere à formalização de aspectos ligados ao setor de turismo. Exemplo disso é a inclusão daqueles que ainda não fazem parte do mapa do turismo no Estado. Em Entre Rios do Sul essa foi uma demanda, conforme a extensionista da Emater, Gabriele Pellin. Com isso, uma ação do poder público incluiu o município neste cadastro estadual, segundo o secretário de Indústria, Comércio e Turismo, Giovani Loureiro da Silveira. “Hoje estamos inclusos e podemos buscar recursos em outras esferas para projetos, a exemplo da ampliação do nosso parque náutico”, cita o secretário.


A extensionista Gabriele explica que a família que participou desta edição do programa possui o Sítio Olho D’Água, que já recebia pessoas, mas com a capacitação foi possível melhorar o serviço ofertado. “Tanto que em maio o sítio foi inaugurado e também sediou o Seminário Regional de Turismo Rural, gerando uma relação mais próxima com a secretaria de Turismo do Estado e com a própria comunidade”, reforça.


Para o futuro, o trabalho segue. Em Cruzaltense, segundo a extensionista Angélica Gazzoni, da Emater/RS, se busca apoio junto ao poder público para fazer manutenções em acessos, além da identificação de estradas e empreendimentos, de modo a facilitar que cada local tenha sua independência e condições de receber os turistas com segurança e conforto. “Se espera que cada turista possa escolher o que quer consumir do roteiro, não necessariamente em grupos, mas aproveitando os pontos de visitação, não esperando apenas excursões. Isso vai gerar uma autonomia para os empreendimentos”, defende Angélica. 

 

Fotos: Gracieli Verde/Ascom Sindicato Rural de Erechim

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Fonte: Gracieli Verde/Ascom Sindicato Rural de Erechim Data Publicação: 11/09/2025 19:00:00

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